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Review | “Gaga: Chromatica Ball”: Um Mergulho Visual e Emocional na Mente de Lady Gaga

Lady Gaga - Imagem: Reprodução
Lady Gaga - Imagem: Reprodução

Após anos de espera, o especial da “The Chromatica Ball”, turnê de Lady Gaga, está mais próximo do que nunca! Com lançamento previsto para amanhã, 25, o projeto dirigido pela própria artista foi gravado no Dodger Stadium em Los Angeles. O show em questão reuniu mais de 52 mil Little Monsters no estádio na noite do dia 10 de setembro de 2022. O projeto audiovisual conta com 1 hora e 52 minutos de tirar o fôlego.

O show começa com uma interlude que já nos deixa claro o que está por vir: um projeto que nos levará para a mente e ao íntimo de Lady Gaga.

A cantora surge pela primeira vez presa dentro de uma “caixa”, com movimento apenas de sua cabeça e braços, sendo exibida como uma peça em uma loja ou museu. Efeitos visuais causados pelas labaredas das chamas do palco e ondas ao redor de Gaga estão presentes durante “Bad Romance”, como se ela estivesse dissociando, além de efeitos de transição como pulsações e glitchs. Em minha visão, a cantora está presa em uma realidade monocromática no início do show, representando o quão presa ela se sentia antes de se conectar com “Chromatica” e com ela mesma. Em “Just Dance” e “Poker Face” a cantora parece se soltar e se deixar levar, se conectando mais com a sua essência. Em relação aos efeitos visuais, “Just Dance” contém cenas do backdrop misturadas às imagens do show e “Poker Face” conta com um efeito onde a cantora aparece triplicada na tela, como visto no teaser divulgado anteriormente, além de transições com movimento, algo que causa certa tontura ao assistir quando somado a alguns cortes rápidos da performance.

Lady Gaga no teaser do especial – Imagem: Reprodução

Em “Alice”, a primeira música do ato I, os efeitos são inspirados nos sintomas da Síndrome de Alice, onde basicamente a pessoa tem alterações na percepção da realidade (leia a análise completa da performance clicando aqui). A edição também é bem rápida e conta até mesmo com efeitos de cor, deixando o vídeo semelhante ao visto nos telões da turnê. Entretanto, é a partir dessa música que realmente nos sentimos dentro da mente da artista. Infelizmente, “Replay” e “Monster” contam com um problema em sua mixagem, já que em certos momentos os backing vocals ficam mais altos que a voz da cantora.

Um dos pontos baixos do especial é “Telephone”, cuja performance recebeu uma edição visual pesada, com cortes extremamente rápidos seguidos de diversos flashes e imagens de ondas sonoras. Essa soma pode causar um certo desconforto visual. Em compensação, as performances de “911” e “Sour Candy” estão magníficas, principalmente os efeitos visuais utilizados em “911” de forma inteligente e não cansativa, casando perfeitamente com o conceito e ideia da performance.

Com uma fotografia impecável, “Babylon” é uma das performances mais deslumbrantes do especial. A edição conta com takes em plano geral e em detalhe, sendo uma das performances com mais imagens panorâmicas, dando um grande destaque à coreografia.

Uma modificação inteligente feita para a gravação do DVD foi a alteração do momento em que Lady Gaga coloca a headpiece de “Free Woman”. Nos demais shows, a artista coloca a peça durante “Babylon”, enquanto no show de Los Angeles, o item é colocado após o final da canção, com diversos bailarinos ao redor da cantora. Um ponto que me chamou muita atenção foi a utilização de imagens capturadas por fãs durante a performance de “Free Woman”, que conta com captação profissional de apenas um ângulo frontal e um aéreo.

Lady Gaga com a headpiece durante “Free Woman” – Imagem: Nicole Mago

O ato IV, onde Lady Gaga apresenta “Shallow”, “Always Remember Us This Way”, “The Edge Of Glory” e “Angel Down” no piano, conta com uma edição leve e delicada como as canções pedem, abusando de takes panorâmicos e de imagens de uma câmera acoplada na parte interna do piano, trazendo uma sensação de proximidade e intimidade com a artista. Felizmente, nenhuma das faixas foi reduzida ou cortada na edição final do projeto. Os vocais de Gaga estão incríveis nessa sessão do show, a cantora realiza as notas com precisão mesmo tocando piano. O belting presente em “Shallow” soa sem esforço algum, enquanto as notas altas de “Always Remember Us This Way” soam limpas e polidas. Ao final do ato, ainda temos “Fun Tonight”, tocada parcialmente no piano e “Enigma”, onde Lady Gaga simplesmente se diverte performando, nos levando para a reta final do show.

O último ato do show é introduzido por um soneto escrito e narrado pela própria artista, que após seu fim, entra no palco ao som de uma versão estendida da intro de “Stupid Love”, primeiro single do álbum “Chromatica”, dançando e apresentando sua banda. Particularmente, essa é uma das minhas performances preferidas do especial, pois ela traz a energia necessária para a edição sem ultrapassar a necessidade em relação a cortes e efeitos. Já “Rain On Me” vai pelo mesmo caminho, contudo, há um efeito de sobreposição que não havia necessidade de ser utilizado, mas foi uma escolha criativa interessante por parte da diretora. A performance ainda conta com Gaga cantando o trecho de Ariana Grande e fogos ao final da canção.

O show se encerra com “Hold My Hand”, com uma edição simples porém rápida, com uma sensação de despedida que nos deixa pedindo mais. A ideia de colocar a despedida de Lady Gaga, banda e bailarinos juntamente com créditos iniciais foi perfeita, pois preenche a finalização longa e encerra o especial de forma inteligente. Nos créditos gerais, o instrumental de “911” na versão da tour é reproduzido juntamente com alguns vídeos de fãs nas laterais.

Lady Gaga após performar “Hold My Hand” – Imagem: Nicole Mago

Em suma, o “Gaga: Chromatica Ball” nos leva para dentro da mente de Lady Gaga, nos mostrando a visão dela do concerto. Por mais que alguns cortes e efeitos possam ser considerados exagerados, o projeto como um todo tem um sentido único. As interludes, que por mais que tenham sido reduzidas, ajudam a contar a história de “Chromatica”, da mente criativa e muitas vezes incompreendida da artista. A fotografia somada com a edição acabam se conversando de uma forma síncrona em diversos momentos do show, dando destaque a detalhes que acabaram passando despercebidos pelos fãs durante a turnê.

O modo que a voz da artista foi trabalhado, tirando os problemas em “Replay” e “Monster”, também merece elogios. Com vocais muito bem mixados, é possível notar que nenhuma correção grandiosa foi feita na pós-produção. Algo que muitos especiais pecam, pois tentam fazer o artista soar como em estúdio, o que leva à adição demasiada de correção vocal, somada com uma compressão para esconder todas essas correções, deixando uma voz “encubada” e levando à perda de certas nuances da voz como alguns vibratos naturais que embelezam a música e dos detalhes das trocas que ocorrem quando o cantor transita pela sua tecitura vocal. Felizmente, “Gaga: Chromatica Ball” não caiu nessa armadilha e manteve os vocais da cantora praticamente como foram gravados no dia.

Nossa equipe agradece a HBO e a Warner Bros. pelo acesso antecipado ao projeto.

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