O aumento do uso da tecnologia tem sido recorrente nos últimos anos. O acesso dos domicílios brasileiros à internet é de 90%, e, nas áreas urbanas, tem ocorrido aumento de 88,1% para 92,3% entre 2019 e 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua sobre o módulo de Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC realizada em 2021 pelo IBGE. Ainda de acordo com os dados, o celular é o aparelho mais utilizado como meio de acesso à internet, refletindo no alto número de crianças que utilizam a tecnologia para assistir a séries, jogar e trocar mensagens.
O PL 2.547/2007 é uma lei que veda o uso de telefones celulares, sem fins educacionais, em salas de aula ou quaisquer outros ambientes escolares. Em contrapartida, os dados fornecidos pelo IBGE revelam que os estudantes são fortes contribuintes para o aumento dos acessos à internet. De acordo com as pesquisas, os estudantes representam 90,3 dos números de pessoas que usam as redes.
A Sabre de Luz Teatro é uma companhia que promove projetos culturais, espetáculos teatrais lúdicos e filosóficos para o público infantojuvenil. Seus projetos contemplam criações de referências artísticas, que fornecem cultura a crianças de todo o país. Joyce Salomão e Cristiano Salomão são idealizadores de projetos culturais e de formação filosófica e artística e que reflitam sobre o comportamento das crianças e jovens: “A criança da atualidade recebe estímulos em demasia; encontrar o ponto de equilíbrio nesta formação e um atrativo para o silêncio é nosso exercício constante para que a criança atue na reflexão”, comenta Joyce Salomão cofundadora da Sabre de Luz Teatro, que realizou no último mês uma live-debate com o tema: Infância e Tecnologia – o impacto da tecnologia nas infâncias e juventudes. O projeto faz a reflexão considerando os efeitos da pandemia e da abrupta inserção da tecnologia na atualidade e consequentemente do esmagamento filosófico causado pela aceleração e pelo aumento da desigualdade social no mundo contemporâneo: “Temos de um lado, o tempo cronometrado, medido pela opressão dos relógios dos adultos, do mundo racionalizado, o que chamamos de monstros urbanos e de outro o tempo sentido e percebido pelas crianças, a subjetividade, a experiência e o acontecimento, com estes pensamentos nos perguntamos: Como brincam as crianças da atualidade? O que exatamente crianças e adolescentes tem feito no ambiente digital? completa Joyce.
O debate teve a participação de Thaís Rugolo – bacharel em Direito pela USP (Universidade de São Paulo), pós-graduanda pelo UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenadora da clínica de Direito da criança e do adolescente. Thaís é integrante do Instituto Alana uma organização com proposta de impacto socioambiental que tem o objetivo de promover e inspirar um mundo melhor, sustentável, justo, inclusivo, igualitário e plural para as crianças. Thaís levanta a questão da alta exposição de crianças na internet: “Algumas crianças, antes de completar 5 anos, tem em média mil fotos expostas nas redes sociais. No Brasil conseguimos ver um fenômeno de criação de perfis nas redes sociais para crianças que ainda nem nasceram, e esses perfis muitas vezes são acompanhados por milhões de pessoas, pois são criados por pais famosos”.
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente é direito da criança o acesso à cultura, bem como a privacidade de seus dados e imagens. O debate trouxe informações dos números, causas e consequências do uso da tecnologia pelas crianças na atualidade. Atividades com tecnologia que trazem engajamento, proporcionam a criação e o aprendizado, oferecem oportunidades de socialização e de nutrição de vínculos, entretanto, quando seu uso é exclusivamente passivo, não permitem criar conexões e reflexões: “De quem é a responsabilidade dos conteúdos consumidos pelas crianças? Dos pais ou dos criadores? Ou de ambos? Os filhos aprendem com o exemplo, por isso é imprescindível o monitoramento e a apresentação de outras formas de entretenimento, como o teatro, o circo, narrações de histórias, que são ótimos meios de desenvolvimento responsável para serem utilizado pelos pais como intermédio de redução do acesso a telas sem fins educativos.”, comenta Joyce.
Iarlei Rangel, participante da Live, integrante fundador do Grupo Esparrama, comenta a dificuldade das crianças do século 21 de encontrarem um equilíbrio na sua relação com a internet: “Estamos falando de nativos digitais, seres que não imaginam o mundo sem a internet. Ela é uma ferramenta e tem os seus benefícios, a discussão é como esta tecnologia impacta diretamente na qualidade do tempo das crianças e também na qualidade do tempo que nós, adultos, reservamos para nossas crianças.”